Lena e Letras
Crônicas, textos de todos os tempos e do tempo dos Anjos de Prata, palpites e comentários.
sexta-feira, 30 de março de 2018
terça-feira, 30 de junho de 2015
quarta-feira, 19 de novembro de 2014
De tantos passados mortos
vivemos
De tantos amores perdidos
sofremos
De tantos desejos sublimes
esquecemos
De tantos medos vãos
perecemos
De tantos beijos ardentes
desistimos
De tantos prazeres furtivos
fugimos
De tantos amigos fieis
duvidamos
De tantas tristezas alheias
corremos
De tantos desmandos insanos
calamos
De tantas mentiras bizarras
transbordamos
De tantas paixões fugazes
morremos...
(Poema de Lena Chagas, publicado em 2006, na sétima Antologia Os Anjos de Prata.)
domingo, 16 de novembro de 2014
Hoje, parece que a falta de tempo passou a ser o grande pretexto para que eu me sobrecarregue de tempo. Acumulo tempo como um sovina acumula dinheiro: ele não gasta nunca e não sabe quando nem como vai gastar o dinheiro que guarda. Não dá e nem empresta para ninguém. Não gasta nem com ele mesmo! Quanto mais tem, mais reclama que está sem. Analogia idiota? Pode ser.
Mas verdade seja dita: foi por absoluta falta de tempo que eu não escrevi sobre o tema desta semana: Tempo.
(Crônica de Lena Chagas, publicada no site dos Anjos de Prata, em 10.01.2002).
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
O tom da palavra
Tricotando
meio ponto
meia ponta
ponta e meia
Ponto de nó
ponto forte
ponto cardeal
ponto de equilíbrio
ponto ideal
ponto de interrogação
ponto de fuga
ponto de luz
ponto fixo
ponto em branco
ponto fraco
ponto de bala
ponto cego
ponto alto
ponto de exclamação
ponto de honra
ponto simples
ponto neutro
ponto facultativo
ponto infinito
ponto de vista
ponto de partida
ponto-atrás
ponto sem nó
ponto crítico
ponto-falso
ponto de chegada
entrega os pontos
ponto cruz
ponto morto
ponto final
Uma volta
meia-volta
volta e meia
volta ao ponto
ponto meia.
02.11.2000
In blues
05.10.2000
O palpite roubou a cena
os personagens viraram gente
os índices explodiram a tabela
o provedor travou de novo
o autor quase enlouqueceu
os anjos piraram no 34
o nosso medo é que acabe
os amores se esconderam
os humores se revezaram
o nosso dia mudou de rumo
o site é um sucesso
o livro on-line vai pro papel
o Badaró nunca morreu
o amor de Elyza não acabou
o meu coração quase explodiu
os blues podem voltar
os dias prateados vão continuar!
domingo, 30 de dezembro de 2012
Existe algo de sublime no sorvete de creme, disse ele a certa altura da conversa. Nunca entendi a fascinação de algumas pessoas pelo sorvete de creme; coisa sem graça! Prefiro o de chocolate ou o de macadâmia. O de creme, só com calda de chocolate. Aí, é outra história.
- Gosta do Fernando Veríssimo, é?
- Gosto muito. Além de escrever muito bem, ele tem um senso de humor fantástico!
- Eu não tenho tempo para leitura desse tipo - em livro, assim, quero dizer -, pois meu tempo está todo tomado pela bolsa (a de valores) e, ultimamente, só leio os jornais do dia - na internet.
- Existe algo de sublime no sorvete de creme!
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Criança Inventa Cada Uma!
Às vezes, não parecia que havia criança em casa. Filho único acostumado a brincar sozinho, ficava horas e horas montando e desmontando Lego ou transformando algum eletrodoméstico estragado e sem conserto, em outra coisa qualquer. Estava sempre inventando ou refazendo algo.
Já inventou uma forma de abrir a lata de lixo com um simples toque num botão, na parede; um carro-robô que carrega suco sem derramar; pipoqueira, ventilador e leitora de cartões, todos à bateria; cofre ou caixa-forte com segredo (impossível descobrir como se abre aquilo!); banco eletrônico (com sinal sonoro na saída das cédulas (em miniatura)); um sistema interno de tv que liga quando a luz do ambiente é acesa; e tantas outras geringonças que, em seguida, voltavam a ser sucata ou peças e motores do Lego. Assim como as criava, ele as destruía, mas com maior velocidade. Principalmente se surgisse uma nova ideia.
E ele também inventava histórias. Algumas, mirabolantes, em que ele aparecia como espectador, quase sempre encobrindo uma travessura. Só se incluía nela quando o desfecho lhe favorecia. Se aparecesse quem o escutasse com interesse, então, a história crescia. E o entusiasmo dele também.
Sua imaginação vem de longe. Gostava de inventar palavras desde bem pequeno. Se não inventava, ele emendava um pedaço de uma em outra, até encontrar a que traduzisse o que queria dizer. Só não as guardava. Mas ainda me lembro de uma ou duas: subsolático (nome do avião que ele inventou 'para ser movido com energia solar', como dizia); piferroz (prato preferido dele: purê, bife, feijão e arroz). Outras tantas já se perderam, caíram no esquecimento. Nem ele as lembra mais.
Mas uma ainda resiste. Começou em uma frase, depois em duas palavras e hoje é menos que uma 'palavra-valise', embora carregue o mesmo conteúdo.
Quando o ouvi dizendo pela primeira vez, ele devia ter 5 ou 6 anos e eu nem acreditei: "-Ho-je-eu-não-ga-nhei-ca-ri-nhô!" Bem assim, num só fôlego, mas pausadamente, e com ênfase na última sílaba. Explícita, sem sutilezas, e ainda com ritmo! Era assim, puxando na barra do meu vestido, ou encostando a cabecinha no meu joelho, ou sentando no meu colo, que ele pedia o carinho (a mais) de cada dia.
Hoje, adolescendo rápido e falando mais rápido ainda, inventando coisas e modos enquanto muda de voz, sempre me alegra e surpreende, quando pede o carinho que a cada dia tem menos tempo ou paciência de receber: "-nhô!" Pieguices à parte, eu adoro!
(Crônica de Lena Chagas – Publicada no site Anjos de Prata - 2005)
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
Ao que se sabe a humanidade sempre conviveu com a mentira. Platão já teorizava sobre o uso autorizado da mentira na política, referindo-se a duas espécies de mentira: uma moralmente admitida - ou mentira útil -, e outra absolutamente condenável, a mentira autêntica. Nietzsche escreveu que o homem precisa de mentiras. O poeta T. S. Eliot acrescentou que o ser humano não suporta muita realidade. Proust afirmava que a mentira é essencial à humanidade.
Percebemos, de fato, que a maioria das pessoas é tolerante com as chamadas mentiras convencionais e mentiras sociais - desde que não ofensivas nem mal intencionadas, e até mesmo concorda que, muitas vezes, a mentira se faz necessária ou se justifica. A tolerância a essas mentiras será maior ou menor conforme os valores morais e éticos de cada um, e, quase sempre, visando evitar conflitos.
Mas o assustador, em nossos dias, é que a mentira assumiu uma dimensão institucional, esfacelando toda a estrutura ética do sistema e aniquilando, de vez, com a já frágil credibilidade. A mentira se justifica sempre que estiverem em jogo os interesses e/ou a sobrevivência dos poderosos. Ninguém é ingênuo ao ponto de acreditar que a verdade e a ética são virtudes inerentes e inabaláveis da política. Ao contrário. Mas monopolizar o discurso e as atitudes em bases fictícias ou negar o óbvio é, para dizer o mínimo, um deboche.
E esse comportamento na área política e governamental, que se nos escancara, todos os dias, nos meios de comunicação do país banalizou-se de tal forma, que criticar o mentiroso é correr o risco de ser vaiado; dependendo do protagonista pode até resultar em processo por dano moral.
Com esse aval, o mentiroso sente-se seguro para demonstrar seu espanto arrogante frente à queixa ou indignação de quem o flagrou na mentira. Alguns, tão acostumados à prática mentirosa - ao ponto de acreditar nas próprias mentiras -, chegam a derramar lágrimas sobre os brios feridos, ofendidíssimos pela acusação que alegam estar sofrendo.
Do lado de cá, pagando por esse espetáculo nefasto, seguimos passivos a assistir, estarrecidos e impotentes, lamentando a certeza de que, se não nas brechas da lei, o mentiroso encontrará amparo no colo da impunidade.
É trágico reconhecer que estamos sendo vencidos pela fraude que se instalou na nação, e que já nos parece demasiado enfadonho procurar a verdade, pois uma vez encontrada nunca nos é satisfatória. Enquanto ficamos embevecidos com o empenho das autoridades em busca da verdade, a mentira continua fazendo seu show. E a julgar pelo cenário, sempre haverá aplausos.
(Crônica de Lena Chagas, publicada na 9ª Antologia dos Anjos de Prata – 20 de outubro de 2009)
Circunlóquios
Quem me conhece, sabe: não gosto de meias palavras, rodeios ou panos quentes. Prefiro que me digam as coisas de uma vez só, sem floreios nem entremeios. Tanto as notícias boas, como as ruins. Sem homeopatia ou complacência.
Mas nem todas as pessoas lembram disso a tempo. Outras tantas, nem sabem desses detalhes. E entre essas, conheço umas especialistas. Especialistas em dar notícias.
Algumas precisam contar uma historinha antes, com ou sem nexo, para depois chegar na propriamente dita. Outras, talvez mais sentimentais, tentam poupar o ouvinte de uma má notícia, dando-lhe uma boa, antes. Também há as que gostam de entrar em detalhes, que montam um cenário e até representam o que têm a dizer. E existem aquelas que nos mandam adivinhar a boa nova. Ou, ainda, as que já chegam dizendo que não vamos acreditar no que aconteceu.
Mas também há quem goste de ser o porta-voz da notícia ruim; tem preferência pela má notícia, aquela que ninguém quer dar. Aparentemente solidário, antecipa-se e se oferece em sacrifício para transmiti-la. No fundo, sente um enorme prazer em ver o sofrimento ou a frustração de quem a recebe. Não acredita? Houve um tempo em que eu também não acreditava. Exceções, doentias exceções.
Por outro lado, quase no outro extremo, estão aquelas pessoas que vão direto ao ponto. Sem papas na língua. Se doer, assopra. Às vezes, são tão diretas, que até me assustam. - Quem mandou? Agora, aguenta!
Exageros à parte, notícias sempre chegam. As boas - não sei por que - demoram um pouco mais; as más chegam voando. Às vezes, já estão nos esperando.
Naquele 31 de dezembro, foi assim. Quando cheguei ao trabalho, alguém já me esperava, na minha sala. Nem imaginava qual poderia ser o assunto já àquela hora, antes das 9 da manhã. O expediente seria reduzido – das 9 ao meio-dia -, para que todos pudessem participar da confraternização oferecida aos funcionários, talvez, por isso, a pressa dele - pensei.
Disse um bom-dia com o sorriso de sempre, perguntou se estava tudo bem e pediu que eu sentasse. Não conseguia disfarçar seu olhar de expectativa, enquanto eu puxava a cadeira e lhe respondia. Esperava por algo mais. Bem mais do que eu, que ignorava o que lhe causara tanta satisfação.
Percebendo minha inquietação, tratou de prolongar aquele mistério e aguçar minha curiosidade - que já era maior em relação ao seu comportamento do que à novidade que ele insistia em me mostrar com tanto vagar –, saboreando cada palavra que dizia, sem revelar o assunto.
Depois de muitos rodeios, uma pista. Só então pude perceber do que se tratava. Na medida em que ouvia suas palavras, eu murchava como uma chama de vela, quando lhe falta o oxigênio. Em poucos segundos, desmoronei. Mesmo assim, impossível não flagrar o deleite que transbordava dos seus olhos, enchia seus gestos e fluía no tom de sua voz. Era prazer. Puro prazer. Desonesto prazer.
Saiu da sala saciado, não antes de me desejar um feliz ano novo. Das horas seguintes, não lembro de nada. De alguns anos, esqueci. Afinal, já faz tanto tempo!
Trauma? Nem tanto! Só sei que sou avessa a circunlóquios!
(Crônica de Lena Chagas, publicada no site Anjos de Prata - 2006).
Desde muito cedo, percebi que um olhar diz muito mais que as palavras.
Cresci sob olhares que não precisavam de palavras para demonstrar reprovação, desagrado ou para impor limites: sem gritos nem pancadas; apenas um olhar e pronto: já entendi!
Deve ser por isso que, para mim, o olhar decide. E é assim, em várias situações da vida.
Como quando se trata de entender ou me fazer entender pelo outro, num relacionamento amoroso, por exemplo.
Uma paixão começou assim: uma troca de olhares e poucas palavras. Durante horas, parecíamos em estado de contemplação – aquela bobeira que só acontece com quem está apaixonado -, cada um lendo o pensamento do outro na pupila que se dilatava até quase esconder a cor dos olhos, como um eclipse total do sol.
Nenhum dos dois procurava palavras bonitas, excitantes ou lisonjeiras para dizer. Estava tudo ali, escancarado em cada olhar. O entendimento foi consequência; nasceu da sintonia.
Para a percepção do olhar do outro, não precisamos ir tão longe, basta estarmos atentos. Os olhos não usam palavras, transmitem sentimentos. Temos de saber traduzi-los.
sábado, 31 de dezembro de 2011
Se não me falha a memória...
Sempre preferi o doce ao salgado, mas de uns tempos para cá, comer doces passou a ser um desejo quase incontrolável. Não qualquer doce, mas alguns em especial.
Depois de uns quilos a mais e o índice de açúcar nas alturas, resolvi procurar uma explicação para essa voracidade.
Comecei esbarrando naquelas hipóteses óbvias e já há muito conhecidas como a compulsão, a ansiedade, a depressão, e por aí afora...
Mas por que procurar justificar um prazer como se houvesse um motivo amargo a ser compensado por uma doçura? Por que não se deliciar com o prazer, simplesmente?
Tentei, então, fixar a atenção no que acontecia enquanto saciava algum daqueles desejos. Percebi que em muitas vezes chegava a fechar os olhos para viajar nas lembranças que um determinado sabor me trazia.
A geléia de cassis, os bombons recheados de licor ou as cerejas ao vinho do Porto, por exemplo, são sabores que me trazem nítidos detalhes de momentos muito especiais vividos numa paixão.
O marzipã é outro sabor marcante que me surpreende por me levar ainda mais longe, fazendo-me lembrar do cheiro que recendia pela casa dos meus avós, onde passei minha infância.
São tantas e tão boas as lembranças que encontro em tortas de chocolate com bolachas Maria, em amendoins açucarados, em cremes de baunilha, em bananas fritas com açúcar e canela — só para citar alguns —, que é preciso admitir que muitos dos meus melhores momentos foram compartilhados com doçura.
Doces sabores, doces lembranças? Estaria aí a explicação da gula pela glicose? Se for preciso explicar, Freud explica!
Por enquanto, é um alívio saber que ainda posso desfrutar da memória do paladar recuperando muito do que minha memória já perdeu pelo caminho!
E é a Ciência que confirma: as células do paladar e do olfato são as únicas do sistema nervoso que são substituídas quando velhas ou danificadas.
Nem tudo está perdido!
(Crônica de Lena Chagas, publicada na 7ª Antologia dos Anjos de Prata - 2006).
Alicatlec
quinta-feira, 21 de julho de 2011
MELHOR IDADE?
Deve ser porque, a partir dos 60, você começa a ouvir:
- MELHOR ela(e) ficar em casa; o sol está muito forte.
- MELHOR ela(e) ficar em casa; pode ventar hoje.- MELHOR ela(e) ficar em casa; na festa só vai gente jovem.
- MELHOR ela(e) ficar em casa; o carro já está cheio.
- MELHOR ela(e) não ir junto ao restaurante; nesse, não tem sopa.
- MELHOR levar a(o) vó(ô) ao geriatra; anda trocando o nome dos meus amigos... será que é Alzheimer?
- MELHOR você usar uma touca de lã; tem um arzinho frio na rua.
- MELHOR você não comer churrasco; olha o colesterol!