terça-feira, 30 de junho de 2015


Fim da Paixão 

Paixão é encantamento, fantasia, euforia, adrenalina; paixão é fogo!
De natureza fugaz, sem qualquer aviso, pode virar fumaça. E o estrago sempre é grande quando a paixão continua para um, mas chega ao fim para o outro. O desapaixonado, sem traumas, quer mais é seguir em frente, buscar (quando já não tem!), viver outra emoção, mas àquele a quem a paixão não abandonou se junta a desolação. 
É difícil sair de uma paixão, mesmo já se sabendo sozinho nela.
O sofrimento pode durar até mais tempo do que durou a paixão. Dependerá do quanto estivermos fundidos com esse sentimento.
Geralmente, a dor faz com que o abandonado procure justificativas para entender o afastamento do outro, ou para fortalecer o desejo da sua volta, enquanto nutre a esperança da reconciliação.
Esse alimentar-se do que foi perdido é de uma insanidade assustadora!
E o "senso criativo" de cada um, a necessidade de se autoflagelar, o tamanho da solidão que passa a assolar a sua vida, ou a soma desses motivos e de tantos mais, é que serão os ingredientes que definirão o tamanho e a duração dessa loucura.
Sem noção de realidade e de si mesmo, o desprezado (ou preterido) passa os dias mergulhado na solidão e no sofrimento. Nada parece desgastar a crosta funesta que tem sobre si.
Sentir-se sozinho o deixou à deriva, sem chão, e, para sobreviver, tem de contar com o tempo para que essa paixão definhe antes que a vida lhe escape!
Por isso, a urgência em virar a página. Difícil? Muito! Mas esquecer também exige querer. E mudar o foco é um bom começo.
Outra paixão, melhor remédio! Mas enquanto isso não acontece, ocupar-se é um bom paliativo. Sem maiores exemplos... Cada um tem uma medida para suportar o luto.
O certo é que nenhum abandono encontra abrigo se não lhe deixamos espaço. 



(Crônica de Lena Chagas, publicada em 2007, na oitava Antologia Os Anjos de Prata.)